História da Boêmia – History of Bohemia

bohemia

Ao longo dos séculos, diversos povos habitaram ou passaram pela Boêmia, em uma movimentação contínua, sem que se radicassem ou houvesse uma definição étnica na posse do território.  Na Idade do Bronze (2000 AC até 500 AC), o povoamento da Boêmia começou a partir da Morávia. Homens procedentes do leste introduziram o uso de metais e deram origem à cultura da Idade do Bronze na Boêmia Central, com destaque para a vila de Únětice. Sabe-se que no século XV antes de Cristo viviam na Boêmia uma etnia que cremava os seus mortos e outra que os sepultava em túmulos (na verdade, em montes ou cômoros artificiais).

No século V antes de Cristo, já na Idade do Ferro, após ocuparam grande parte do território europeu, dos Balcãs às Ilhas Britânicas, as tribos celtas dos Boios (Boii) chegaram à Boêmia (nome derivado exatamente desta tribo). Eles introduziram na região o hábito de viver em pequenos agrupamentos urbanos como ponto de apoio às atividades comerciais e às pequenas indústrias locais. Essas tribos continuaram habitando a Boêmia até o início da era cristã, quando aumentou a pressão do Império Romano e a região foi invadida pela tribo germânica dos marcomanos, vindos do oeste.

boios

Localização aproximada dos boios na Itália e na Boêmia

Ainda que os invasores não fossem numerosos, acabaram com os centros urbanos fundados pelos celtas. Ao tempo do nascimento de Cristo, os marcomanos entraram em contato com as vanguardas romanas que haviam chegado ao Danúbio em sua expansão para o norte, inclusive guerreando contra elas. A Boêmia, no entanto, permanecia à margem do Império Romano, separada pela linha de fronteira romana. A ausência de relações sistemáticas com o Império Romano se refletiu de maneira significativa no desenvolvimento da Boêmia. Nem marcomanos e nem romanos deixaram muitos vestígios nas regiões que ocupavam.

Foi por isso que, após a saída dos marcomanos, as tribos eslavas não tiveram muito obstáculo para ocupar e povoar a Boêmia e a Morávia, onde já estavam no final do século V ou começo do século VI. Tiveram, é verdade, que expulsar turíngios e longobardos, tribos germânicas que, em suas migrações, também chegaram a habitar o território da Boêmia. Houve algumas áreas, no entanto, em que eslavos e germânicos conviveram durante certo tempo. No final do século VI, os germânicos já haviam sido assimilados pelos eslavos ou imigrado para outras regiões.

eslavosTribos eslavas na Europa na metade do século VII

Como todos os povos indo-europeus, os eslavos tinham origem na Ásia Central, onde levavam uma vida nômade.  Após encontrarem os citas, mais desenvolvidos do que eles, na atual região meridional da Rússia, os eslavos passaram a adotar a vida tribal agrícola. Pressionados pelos citas, no entanto, prosseguiram mais para o oeste. Ao que parece, chegaram à Boêmia pelo nordeste, dirigindo-se então para o oeste e depois para o sul e leste. Ao mesmo tempo, veio das planícies húngaras e entrou pelo sudeste da Boêmia o grupo dos ávaros.

Os ávaros, de origem uralo-altaica ou turco-tártara, eram um povo nômade que inicialmente se apoderou da Panônia, território situado em parte da região húngara a oeste do Danúbio. Eram tidos como cruéis e as diferenças no modo de vida foram causas de frequentes conflitos entre eles e os eslavos na Boêmia. Dotados de maior mobilidade e combatividade, os ávaros chegaram a dominar parte da população eslava. Não aceitando mais a opressão dos ávaros, os eslavos se rebelaram e, liderados pelo príncipe franco Samo, derrotaram os ávaros em 623-24.

Com a vitória, Samo foi reconhecido pelas tribos eslavas como soberano de um vasto império que abrangia a Boêmia, a Morávia, parte da Eslováquia e parte da Baviera, na época povoada por eslavos. Seu reinado durou 25 anos e é considerado um momento iniciador na história da República Tcheca e da Eslováquia. Foi, na verdade, o primeiro império formado pelos eslavos ocidentais, embora não constituísse uma organização estatal, mas uma união tribal liderada pela pessoa do soberano. Samo comandou com êxito uma guerra defensiva contra o rei franco Dagoberto, derrotando-o em Wogastisburg, aparentemente no noroeste da Boêmia. Quando Samo morreu, no entanto, entre 658 e 659, o seu império desmoronou.

samo

Reino de Samo, o soberano das tribos eslavas, em 631  

Não se sabe muito sobre o que aconteceu à Boêmia nos 150 anos que se seguiram à morte de Samo. As contendas havidas entre o recriado Império Romano de Carlos Magno e os eslavos da Boêmia evidenciam a dificuldade que era para estes manter uma existência independente. No ano de 800, também a Áustria se tornava província de Carlos Magno, cuja autoridade teve grande influência sobre seus vizinhos boêmios. Tornou-se ele rei dos eslavos ocidentais, sendo soberano das tribos que habitavam a Boêmia. Apesar disso, a região não sofreu dependência imediata e nem houve tentativa do império romanizado de germanizar os eslavos boêmios.

Por essa época as tribos tchecas e morávias dominadas por Carlos Magno tiveram contato com o cristianismo, introduzido pelos padres bávaros. Na primeira metade do século IX, a Morávia tornou-se um reino, que, em sua expansão territorial, colocou sob o seu domínio as tribos eslavas que habitavam a Boêmia. Em 870, no entanto, o príncipe Bořivoj se autoproclamou kníže (duque) da Boêmia, criando, dessa maneira, um incipiente Estado Tcheco. Bořivoj vinha da dinastia premislida e, mesmo após a independência, continuou aliado da Morávia.

Foi sob a administração de Bořivoj, convertido ao cristianismo, que foi fundada a Igreja de São Clemente, a mais antiga da Boêmia. A sede de seu governo foi o burgo de Levý Hradec, situado ao norte de Praga. Mais tarde transferiu-se para a Fortaleza de Praga, cidade que passou a ser um importante centro comercial, político e cultural da Boêmia. Com a morte de Bořivoj, por volta de 888, a Boêmia voltou a estar sob os domínios da Morávia, cujo trono era ocupado por Svatopluk. Após a morte deste, em 894, um dos filhos de Bořivoj, chamado Spytihněv, tomou o poder e devolveu a independência à Boêmia. A Grande Morávia em breve se desintegraria.

Kniha "VLTAVA - Libor Sváček" - vydání 1., rok 2011

Primeira igreja da Boêmia, dedicada a São Clemente. Foto: Libor Svacek.  

O governo de Spytihněv na Boêmia se destaca pela aproximação com a Baviera. Isso contribuiu para que, paulatinamente, os boêmios se inclinassem para a cultura ocidental latina. A cultura eslava antiga esteve em progressivo declínio nos séculos seguintes. Depois de Spytihněv, foi soberano seu irmão Vratislav I e, em seguida, o filho deste, Príncipe Venceslau, que se afastou da Baviera e se aproximou da Saxônia em sua política externa. Havia muitas rivalidades no seio da dinastia premislida, e uma dessas fez com que Venceslau fosse assassinado pelo seu irmão Boleslav. O rei morto, convertido em símbolo do poder e da continuidade do estado boêmio, foi canonizado e, até hoje, São Wenceslau é o padroeiro da República Tcheca.

saovenceslau

Venceslau I se tornou o padroeiro da República Tcheca 

Boleslav assumiu o poder, que mais tarde seria passado ao seu filho Boleslav II. Sob o governo deste, iniciado em 972, o estado tcheco alcançou a sua maior extensão, abrangendo a Boêmia, a Morávia e as regiões mais distantes da atual Eslováquia e da Galícia. No final do século X e começo do século XI, no entanto, a Boêmia entrou em profunda crise com o surgimento e a expansão dos estados vizinhos (Hungria e Polônia), além de rivalidades entre os próprios filhos de Boleslau. Os premislidas perderam vários territórios e o seu estado se reduziu à Boêmia.

O enfraquecimento da dinastia permitiu que Boleslau, o Valente, monarca polonês, colocasse o príncipe Vladivoj, seu representante, no trono de Praga em 1002. Foi a partir deste soberano que a Boêmia foi reconhecida como feudo imperial do Sacro Império Romano-Germânico. Os desentendimentos entre os soberanos boêmios e o imperador eram frequentes. No reinado de Břetislav I, a Morávia foi anexada à Boêmia. Seu filho Vratislav II obteve para si o título de rei, o que confirmava a importância da Boêmia no contexto do Sacro Império Romano-Germânico.

A partir de Otakar I, em 1212, a Boêmia deixou de ser um principado e tornou-se efetivamente um reino, com o monarca possuindo de modo definitivo o título real hereditário. Com isso a Boêmia passou a ter direito a voto na escolha o imperador romano-germânico. Isso não teria sido possível sem que houvesse na região uma atividade econômica de alta qualificação, e foi por isso que, nessa época, houve o grande incentivo à colonização sistemática de regiões ainda desabitadas na Boêmia, principalmente nas áreas de florestas nativas. Com isso um grande número de colonos procedentes de regiões alemãs superpovoadas veio para a Boêmia, aonde povoaram regiões de floresta de difícil acesso situadas nas faixas de fronteira.

ottokar

Com Otakar I no trono, a Boêmia se tornou um reino 

Sob o reinado de Otakar II, a dinastia dos premislidas estendeu os seus domínios, abrangendo então a Boêmia, a Morávia, a Silésia, a Eslováquia, a Lusácia, a Áustria, a Estíria, a Caríntia e a Carniola. A influência de Otakar II preocupou os príncipes germânicos, em especial a Rodolfo, conde de Habsburgo, eleito imperador em 1273 e que no ano seguinte contestou os direitos de Otakar II sobre a Áustria, a Estíria e a Caríntia. Foi o começo do declínio do Estado Tcheco, que viu os países austríacos se separarem e a Boêmia voltar à influência do Sacro Império.

Em 1300, existiam na Boêmia 32 cidades reais maiores e mais importantes, como Litoměřice e Hradec Králové. Essas cidades desenvolveram-se a partir de burgos ou ao redor de castelos e foram frutos do incentivo à colonização estrangeira. Os colonos alemães haviam trazido de seu país de origem não apenas técnicas agrícolas mais avançadas, mas também a base jurídica da municipalidade. As cidades reais tinham o direito de comercialização e a permissão de fabricar cerveja, ao mesmo tempo em que pagavam tributos à coroa. A aglomeração de Praga crescia e havia cidades que se destacavam na mineração, como Kutná Hora, na Boêmia Central.

A vinda de camponeses alemães para a Boêmia modificou de forma sensível a composição do reino, que se tornou uma confederação habitada por duas nacionalidades, sem que houvesse uma integração étnica entre elas. Essa situação duraria até o final da Segunda Guerra Mundial. Durante sete séculos, tchecos e alemães alternaram momentos de convivência pacífica com outros de rivalidade e conflito armado. Ao longo do século XIII, monarca e nobreza da Boêmia passaram a aceitar os usos e costumes do ocidente. Houve um crescimento da religiosidade, através da atividade de novas ordens religiosas, e surgiram construções admiráveis.

Com Wenceslau II e Wenceslau III como monarcas, a Boêmia tentou estender seu domínio para a Polônia, mas a morte deste último extinguiu, pela linhagem masculina, a dinastia dos premislidas, após mais de 400 anos no comando da Boêmia. Depois do governo de João de Luxemburgo, a Boêmia conseguiu pela primeira vez eleger, na figura de Carlos IV, o imperador de Roma. Com isso, Praga se converteu na capital do Sacro Império e foi ampliada, tendo recebido, inclusive, a primeira universidade da Europa Central. Quando Carlos IV faleceu, em 1378, a Boêmia era um dos estados mais florescentes e poderosos da Europa.

carlos IV

No reinado de Carlos IV, a Boêmia era um dos mais poderosos estados da Europa 

Em 1380, no entanto, três décadas após a Peste Negra que havia matado aproximadamente 25% dos europeus, a Boêmia foi atingida por um novo surto da peste que dizimou de 10 a 15% de sua população. Em consequência, houve um empobrecimento da nobreza, o isolamento e o despovoamento de vastas áreas. Nessa situação adversa, faltava o comando de um monarca, já que Venceslau IV, o primogênito de Carlos IV, não repetiu o sucesso de seu antecessor. Em verdade, diz-se que Venceslau IV preferia se dedicar aos seus prazeres a governar o país. Em meio a intrigas com representantes da Igreja e da nobreza, ele acabaria deposto em 1400.

A situação caótica pela qual a Boêmia passava foi interpretada por pensadores como castigo divino pela violação de mandamentos de Deus contidos na Bíblia. A própria Igreja foi apontada como responsável pela decadência da sociedade, uma vez que se preocupava mais com o luxo e a riqueza, além de intervir na política do governo, do que com a missão pastoral de salvação das almas. Em Praga, um grupo de professores tchecos da Universidade Carolina, liderados por Jan Hus, foi o porta-voz de ideias reformistas. Defendiam que as condições da sociedade iriam melhorar quando a Igreja retornasse a viver segundo os princípios do Novo Testamento.

As críticas encabeçadas por Hus tiveram repercussão imediata na corte tcheca, na nobreza e em grande parte do povo. Houve forte oposição dos prelados eclesiásticos e dos burgueses de origem alemã, que, após a peste, tinham sua posição enfraquecida pela crescente influência tcheca nas grandes cidades da Boêmia. Em 1414, Jan Hus participou do Concílio Ecumênico de Constança, na esperança de que se encontrasse uma solução para os problemas enfrentados pela cristandade. No entanto, foi detido e condenado à morte como herege por um tribunal da Inquisição. Acabou queimado na fogueira em 1415 e começou a ser venerado como mártir.

jan hus

Jan Hus foi o porta-voz das ideias reformistas na Boêmia

A morte de Hus, assim como o de seu amigo Jerônimo, agravou as tensões entre os partidos católico e hussita, dando início, em 1419, à Revolução Hussita, propagada por toda a Boêmia. Os hussitas reivindicavam a comunhão sob as duas espécies (hóstia e vinho), a liberdade de pregação, a pobreza da Igreja e a punição dos pecados mortais sem distinção da posição de nascimento do pecador. Desavenças internas deram origem a várias correntes ideológicas, das moderadas às mais radicais. Os hussitas foram considerados hereges pela Europa católica, que, tendo à frente a Cúria Papal, o imperador do Sacro-Império e o rei da Hungria, promoveu cinco cruzadas na Boêmia contra o movimento entre 1420 e 1431, sendo derrotada em todas elas.

A Boêmia, no entanto, debilitou-se pelas guerras e estava em sérias dificuldades econômicas. Os hussitas moderados esforçavam-se para chegar a um acordo com os católicos no Concílio de Basileia. Este acordo foi formalizado em 1436, dele resultando que os habitantes adultos da Boêmia e da Morávia poderiam escolher qual das duas confissões iriam professar. Como 70% da população era constituída de hussitas, em 1458 foi eleito como rei da Boêmia um fidalgo de origem hussita, Jorge de Poděbrady. Considerado herege em quase toda a Europa, Jorge ficou isolado em sua tentativa de unir os monarcas europeus. O Papa considerava nulos os pactos do Concílio de Basileia e exortava os católicos a declarar nova guerra contra os hussitas.

hussitas

Guerras Hussitas fragilizaram a Boêmia 

Em consequência, o rei da Hungria, Matthias Corvinus, e os católicos tchecos lutaram entre 1468-1471 contra o rei da Boêmia. Matthias foi inclusive eleito rei da Boêmia pelos estados católicos, enquanto que Poděbrady e seu sucessor Vladislau eram os “reis hussitas”. Após a morte de Matthias, Vladislau unificou sob o seu cetro toda a confederação de estados, além de se tornar rei da Hungria. Os problemas econômicos na Boêmia eram graves e o país almejava pela paz. Em 1485, a assembléia dos católicos tchecos reconheceu os pactos firmados durante o Concílio de Basileia e assim foi estabelecida a paz religiosa com os hussitas. Terminava então um longo período de guerras no qual a Boêmia perdeu cerca de 40% de sua população. Desde o início do século XIII até as guerras hussitas, os alemães fundaram 834 aldeias na Boêmia.

Em 1526, assumiu como monarca o príncipe Fernando I, que tomou medidas centralizadoras para diminuir a influência das assembleias. Seu sucessor, Rodolfo II, se tornou responsável por ampla liberdade religiosa na Boêmia, sem equivalente na Europa de então. Os ânimos, apesar disso, não se acalmaram entre assembleias católicas e evangélicas. As tensões religiosas, além de rivalidades dinásticas, territoriais e comerciais, degeneraram na violenta Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), da qual parte da Europa participou. Ao mesmo tempo, tornava-se monarca boêmio Fernando II, que não teve escrúpulos para punir adversários e iniciou um processo de re-catolização do país, o qual culminou na promulgação de uma nova constituição em 1627.

Esta constituição tornava hereditário o trono da Boêmia na dinastia dos Habsburgos. O idioma alemão adquiriu o mesmo direito do tcheco e milhares de pessoas emigraram para o país. Ao mesmo tempo, nobres e burgueses que desejassem seguir outras confissões precisavam deixar o reino. O processo de re-catolização aconteceu com relativa rapidez e êxito. No entanto, a economia da Boêmia ficou em ruínas por conta da Guerra dos Trinta Anos, que matou quase um terço da população. A recuperação foi demorada e os servos pagavam pesados tributos. A situação gerou várias revoltas de camponeses, a maior delas em 1680. Somente no início do século XVIII a economia começou a prosperar outra vez nas cidades e nos campos da Boêmia.

A monarquia absolutista e centralizadora dos Habsburgos figurou entre as grandes potências européias no final do século XVII e início do século XVIII. Compreendia o território da coroa da Boêmia, os territórios austríacos, a Hungria, entre outros territórios. Entretanto, tiveram que enfrentar a rivalidade da Prússia, que lhe tomou a região industrializada da Silésia após uma guerra que também afetou o território boêmio entre 1741 e 1748. Na ocasião era monarca a imperatriz Maria Teresa, que suprimiu a Repartição Real Tcheca, eliminando a individualidade estatal da Boêmia. Assim, ela passou a estar sujeita ao absolutismo austríaco, que ao longo dos anos iria intensificar a vigilância para reprimir as tentativas de emancipação dos tchecos.

Ao mesmo tempo, a Boêmia se convertia na base industrial da monarquia dos Habsurgos. As medidas reformistas iniciadas por Maria Teresa incluíram também o ensino obrigatório. Seu filho José II aboliu, em 1781, a servidão na Boêmia, na Morávia e na parte remanescente da Silésia, embora isso só acontecesse de fato em 1848. Outro decreto legalizou as confissões luterana, calvinista e ortodoxa nesses territórios. Também foi abolido o conceito de que o povo era propriedade do nobre, para quem precisava pedir licença até mesmo para se casar. O Estado passou a pressionar grandes proprietários de terras para a fundação de novas aldeias.

josé ii

José II deu continuidade às medidas reformistas na Boêmia

Em 1848 os tchecos formularam um conjunto de reivindicações políticas. A primeira solicitação era a reorganização do império austríaco, de maneira a respeitar os direitos dos povos eslavos. Essas esperanças foram frustradas com a imposição de uma Constituição repleta de medidas severas contra representantes da oposição. Apesar do clima político, as atividades econômicas se desenvolviam na Boêmia. Em meados do século XIX, o país tcheco, incluindo a Morávia e parte da Silésia, era uma das regiões mais industrializadas da Europa Central. Na antiga Pilsen (atual Plzeň) se destacavam as indústrias Škoda e a fábrica de cerveja Pilsen. O país passou a contar com uma densa rede ferroviária ligando os centros industriais ao resto da Europa.

Em 1867, época em que a Áustria entrava em declínio, ao perder influência na península itálica e nos estados alemães, foi firmado um compromisso entre as nobrezas austríaca e húngara para a criação de um Império Austro-húngaro. Era a este império que pertencia a Boêmia no período de maior imigração ao Brasil, a partir da década de 1870. O Império Austro-húngaro compreendia também territórios que hoje pertencem à Eslováquia, Eslovênia, Croácia, Bósnia, Sérvia, Montenegro, Itália, Romênia, Polônia e Ucrânia. Para minorias eslavas, como os tchecos que habitavam a Boêmia, a situação não mudou com a criação do império, já que continuaram sem direitos de cidadania. Isso contribuiria para a desintegração do império em 1918. Após o fim da Primeira Guerra Mundial, seria criado o estado da Tchecoslováquia.

Austria-hungary

Reinos e países do Império Austro-húngaro 

A parte tcheca correspondia à Boêmia, Morávia e uma pequena parte da Silésia, conjunto que desde a Idade Média representava uma unidade confederada. A Eslováquia, por outro lado, foi parte do reino húngaro desde o ano 1000 até 1918, de modo que se distinguia culturalmente dos países tchecos. Com o surgimento deste estado, as populações germânicas da Boêmia e da Morávia não desejavam continuar vivendo com os tchecos. A região dos sudetos, formada por uma maioria de origem germânica, se voltou cada vez mais à sua vizinha alemã, onde subia ao poder, em 1933, Adolf Hitler, que desejava reunir em um só estado todos os “alemães”.

Em 1935, o partido dos sudetos vence as eleições parlamentares e aumenta a pressão sobre o governo central, dando origem a uma situação internacional que se caracterizava pelo medo de um conflito bélico. Os representantes tchecos acabaram por acatar em 1938 o Tratado de Munique, que cedia à Alemanha os territórios tchecos fronteiriços. Em 1939, tropas alemãs iniciaram a ocupação dos territórios tchecos, transformando-os em Protetorado da Boêmia e da Morávia no Império Alemão, o que, dessa vez, despertou a repulsa das populações eslavas. Com o término da guerra, em 1945, a Tchecolosváquia foi restabelecida e a comunidade alemã da Boêmia e da Morávia foi removida à força para o território da Alemanha derrotada.

sudetos

A partição da região dos sudetos entre 1938 e 1939

As eleições parlamentares de 1946 foram vencidas pelo o Partido Comunista, que se manteve no poder até a derrocada do regime no final dos anos 80. Admitindo as divergências entre os países reunidos sob o nome de Tchecolosváquia, em 1992 uma assembleia decidiu pela sua extinção, criando, em consequência, dois países independentes representados pelas repúblicas tcheca e eslovaca. Em 1997, o chanceler alemão Helmut Kohl e o primeiro ministro tcheco Vaclav Klauss assinaram em Praga uma declaração de reconciliação, destinada a por fim a uma contenda que opunha os dois países desde os eventos da Segunda Guerra Mundial.

________

Fontes:

BIGARELLA, João José. Fragmentos étnicos. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná, 2004.

CORNEJ, Petr. Il tutto della sotria Boema. Praga, 44 p., 1992.

CORNEJ, Petr. Todo lo fundamental dela historia checa. Praga, 1993. (tradução José Louis Citores)

Polišenský, Josev V. History of Czechoslovakia in Outline. Praga, 144 p, 1991.

NEUMEISTER, W. e  HERZOGENBERG, J. von. Traumreisen Böhmen Mähren Slowakei. München: Comoran Verlag, 200 p, 1995.

SPERLING, W. Tschechoslowakei. Beiträge zur Landeskunde Ostmitteleuropas. Stuttgart: Verlag Eugen Ulmer, 343 p, 1981.

Viček. Die Reste des Neanderthalmenschen aus dem Gebiete der Tschechoslowakei. In: von Koenigswald, G. H. R. (ed.). Hundert Jahre Neanderthaler. Neanderthal Centenary (1856-1956). Utrecht: Keming en Zoon N. V., p. 107-120, 1958.

 

 

 

Leave a comment